com base Fleischmann Piccolo, escala 1:160
A. Investigação e Modelo Base
O tema deste trabalho é um sonho de longa data, o de conseguir um vagão fechado da CP com alguma qualidade, da Época IV/V, perfeitamente apto a circular em via N.
Os vagões Grs, Gls ou Gs alemães são idênticos aos G, Gkkl ou Gs da CP, mas há diferenças cruciais que importa modelar, seguindo o protótipo.
As únicas fotos a que houve acesso são: uma de um vagão G, com decalques já prontos da TrenMilitaria; e uma de um vagão Gkks, cujos decalques foram encomendados. Optou-se pelo 1º.
O original é o .G 26 94 100 4 041-5, fotografado por LUISFER em local e data indeterminados. A foto revela um vagão bastante enegrecido pelo tempo, com repintura nas zonas de identificação, remetendo para os anos 80 ou 90.
Tem teto liso cinza claro e um evidente cilindro de freio, por detrás de um estribo centrado à porta, com 3 apoios.
Escolhido o protótipo, o mais dificil foi escolher o modelo para trabalhar.
Optou-se por um modelo Fleischmann que vem no set de iniciação com a BR340 da RENFE, que pode não existir em separado.
O modelo Fl mais comum, assim como o Minitrix, têm o teto estriado e não trazem estribos adequados. Também foi verificado um modelo da Modellbahn Union, interessante mas só com duas janelas de ventilação, tornando complicada a adaptação.
O modelo escolhido tem a grande vantagem de ter o chassis em poliestireno duro, permitindo com alguma paciência aplicar diretamente cola de plástico liquida. Tem distância correta entre eixos, o estribo de 3 apoios, topos adequados e pratos-de-choque redondos.
A maior desvantagem é que é o modelo mais fora de escala, com comprimento do corpo mais de 1 mm em excesso.


O desenho técnico do vagão G série 100 contém uma estrutura triangular de freio, que não se encontra na foto. Por outro lado não contempla o cilindro de 21 polegadas referido em “OUTRAS CARATERISTICAS”, nem a barra central do estribo, que estão bem evidenciados na foto do protótipo.
B. Preparação do Modelo
A preparação foi relativamente simples:
B1. Limpeza leve da tampografia com lâmina de bisturi e caneta-de-fibra.
B2. Retirada dos pequenos cilindros junto do estribo, colando em sua vez um cilindro de poliestireno de 3,2 mm (Evergreen 214) com 6 a 6,2 mm de comprimento, discretamente deslocado para a direita, visto de frente (posição estimada a partir da fotografia real).

B3. Extensão dos apoios dos ganchos de arrasto, com placas de poliestireno.

Nesta figura mostra-se o aspeto durante a colocação dos apoios de gancho-de-arrasto, a seguir nivelados pelas barras laterais, em baixo. Estes apoios são inclinados no bordo interno, ao contrário dos modelos comerciais.
Nota: é mais fácil encher em excesso o espaço e depois limar em cima, do que ir colando camadas e depois nivelar.
Nota: com este modelo base, não é necessário modificar os estribos de canto.
C. Detalhes Fotogravados
C1. Colocação dos Ganchos-de-arrasto
Foram utilizados 4x ganchos TrenMilitaria Ref. N-MAT-000_0062.

São colados com cianoacrilato na margem interna dos apoios, ligeiramente salientes para baixo.
C2. Colocação das Caixas-de-Registo
Foram utilizadas caixas-de-registos de produção própria, em latão de 0,15 mm, fixada com cola branca.
Obtém-se também um bom resultado com um quadrado de poliestireno muito fino com 2 mm, que pode ser picado com uma agulha.
A grelha localiza-se na zona inferior direita do 2º painel.

C3. Colocação do volante de freio (produção própria, latão de 0,25 mm)
Foi colada uma barra curta 0,64 mm de diâmetro no centro do volante (Ev ref. 219), com cianoacrilato gel. A curvatura dos raios deve ser do centro para a direita, visto de fora.
Os volantes ficam sob a carroceria. É muito fácil nivelá-los colando primeiro uma pequena tira de estireno de 0,5 mm sobre a barra do chassis, à esquerda do vagão quando visto de frente do lado do cilindro de freio.
Usando cola de plástico liquida pode-se obter uma fixação forte do eixo do volante e ter tempo para afinar o seu alinhamento.

À direita vê-se a colagem básica e afinação em curso.
À esquerda vêm-se pequenas barras de 0,5 mm a reforçar a fixação.
C4. Colocação dos corrimões
Após fazer os furos nos locais apropriados é surpreendentemente fácil colocar os corrimões.
Neste caso os corrimões têm cerca de 6,5 mm de altura. Usa-se um retângulo com 6 mm de lado para moldar fio-de-cobre de 0,3 mm, fácil de encontrar e trabalhar. Neste caso obtém-se uma altura de aproximadamente 6,6 mm.
Recomenda-se furos com broca de 0,5 mm nas barras laterais dos topos à direita e junto às portas à esquerda, com mini-broca manual. Pode fazer-se um dos furos e afinar o segundo pelo corrimão já dobrado.
Se se vai colocar corrimões nas portas, deve-se remover os corrimões longos gravados no modelo comercial com lâmina de bisturi.
Coloca-se assim um total de 2 corrimões em cada lado, um na porta, outro no canto direito.

Nota: neste modelo foram colocados corrimões em aço de 0,35 mm, mas recomenda-se fortemente usar antes o cobre de 0,3 mm.
D. Pintura
Foram apenas usadas duas cores padronizadas para a pintura:
O óxido Vallejo: 70.982 (137) Cavalry Brown; e o castanho-chocolate 70872 (149).
A base da pintura foi cerca de 3 partes de 149, que é muito escuro, aclarado com 1 parte de 137, para dar o aspeto enegrecido.
Sobre essa base foi aplicada uma aguada irregular do 137 no centro dos painéis, em várias demãos para simular o efeito do tempo observado na foto real.
As zonas repintadas foram cobertas com mistura de 2 a 3 partes de 137 para 1 parte de branco. Deve obter-se um tom rosa claro, senão com os vernizes não se irá conseguir um contraste suficiente, nesta escala. É mais fácil cobrir por excesso e depois corrigir com a mistura base após colocar as inscrições, do que ao contrário.
Pode calcular-se o padrão necessário na foto do modelo final.
O teto foi pintado cinza claro e depois irregularmente escurecido com aguadas de cinza médio, preto e castanho.
Os volantes e ganchos encontram-se oxidados no protótipo, pelo que foram pintados com 137 puro, a fim de se destacarem um pouco.
E. Colocação de Decalques e Finalização.
Foi empregue a técnica de aplicar verniz brilhante sobre toda a pintura, colocar os decalques e depois cobrir tudo com verniz baço.
Decalques: TrenMilitaria Ref. N-CP-000_0014 (recomendado, protótipo identificado em foto). Contudo foram feitas pequenas alterações ao conjunto fornecido de acordo com a foto original, sobretudo colocar um e não dois triângulos de velocidade nos painéis mais à direita.
É fundamental só utilizar vernizes de grande qualidade para modelismo.

Considerações finais
A conclusão deste modelo não diminui o interesse pelos vagões fechados CP das Épocas IV/V, antes ilustra as dificuldades do modelismo baseado em protótipo.
É muito complicado trabalhar com base numa única fotografia, dadas as variações que se observam no material circulante real.
Há muito pouca documentação fotográfica disponivel para o público em geral, em particular para o modelismo detalhado, mesmo em livros e revistas especializados.
Segundo o magnifico trabalho de Eugénio Santos sobre composições ferroviárias, circulavam vagões mistos Gkks, Glm, Gkklm (e até Gklm com guarita) mesmo até ao final do século passado. Estamos longe de reunir documentação suficiente, que permita reproduzir uma composição com alguma fiabilidade, mesmo apenas um conjunto de meia-dúzia de vagões, dado o “mistério” que envolve os vagões G.
Onde estão os G com tabuado? E os Gs? E como entender os desenhos técnicos da categoria Glm, onde estão englobados vagões muito diferentes, sob a mesma designação?
Gostaria de deixar uma palavra de grande apreço ao trabalho de LUISFER em fotografia, sem o qual o modelismo e a história recente da CP seriam muito mais negligenciados.
Juntos poderemos partilhar uma maior quantidade de experiência e informação, para que o modelismo N não fique a dever seja o que for às outras escalas, em rigor e qualidade.
Boa afeição N-CP!
GBranco, 2024
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